Ou: Eu odeio pobre!!!
Foi-se o tempo em que viajar de avião era privilégio de poucos. Agora o transporte aéreo se democratizou e alcançou camadas mais populares.
Isso é bom para quem está entrando no mercado. Mais ofertas de emprego, o setor está bombando.
Mas também significa ter que saber lidar com esses novos clientes e com seu modus operandi.
Gente mal educada existe em todas as camadas sociais. Fato. Até nas chamadas classes "diferenciadas" tem pessoas grosseiras e arrogantes. E como tem!
Mas lidar com a classe C emergente requer bastante jogo de cintura para você comissário não se melindrar à toa, não se estressar a toda hora e o mais importante: para não melindrar o cliente que é quem sempre tem razão. Seja ele brega ou chique.
Choques culturais ocorrerão com certeza, e você, como bom profissional que é, tem que estar preparado para lidar com isso da melhor maneira possível.
O passageiro classe C costuma pedir a atenção do comissário de maneiras pouco ortodoxas, como por exemplo cutucando. Podem cutucar o ombro, o braço, as costas ou puxar a manga da camisa. Não conheço ninguém que goste de ser cutucado. É chato, é desagradável, é invasivo. Mas o bom profissional aprende a "entubar".
Para quem tem verdadeiro horror de ser cutucado eu sugiro procurar outra profissão. Eles não vão parar de fazer isso. E nem você vai ficar dando aulas de etiqueta nas alturas. Até porque você terá mais o que fazer.
Uma outra maneira de se chamar os comissários é no assobio. Muitos usam o PSIU! Ou o grito mesmo: Ei! /Moça! /Aeromoça!/Meu camarada!/Colega! e outros mais.
Ficou chocado? Vai ter dois trabalhos, pois volto a repetir: Você não é pago para dar lições de boas maneiras a quem não as pediu. O máximo que se faz numa hora dessas é mostrar ao cliente o botão de chamada do comissário e solicitar que da próxima vez ele aperte o botão ao invés de gritar. As chances de você ser atendido são.... bem.... digamos...... dois por cento talvez? rsrs
Mas ao contrário do que parece, ninguém faz isso por ser grosseiro. É que a classe C tem uma noção de privacidade peculiar. Costumam viver mais aglutinados do que as classes mais favorecidas. Ou moram várias pessoas na mesma casa, ou existem vários núcleos familiares no mesmo terreno. O famoso "puxadinho", o segundo andar construído em cima da lage. Por isso a noção de privacidade é relativa. Isso explica os cutucões e os gritos. Quando se tem que dividir o espaço com vários outros, muitas vezes o grito é questão de sobrevivência.
A classe C costuma sujar mais o avião. Nesse caso já é uma questão cultural do povo brasileiro. Em países mais desenvolvidos o que se pensa é: "Não vou jogar papel no chão para que a rua por onde eu passo não fique suja."
Aqui a mentalidade é: "Se todo mundo joga papel no chão por que eu não posso jogar?"
E na cabeça deles sempre vai ter "alguém" para limpar a sujeirada. Então para que se preocupar?
Lidar com o ser humano nunca foi tarefa fácil. Lidar com seres humanos de cultura e mentalidade diferente da nossa é mais difícil ainda.
Procurando ver a situação pelo lado bom (sim, tudo tem seu lado bom!) são essas coisas que fazem da profissão de comissário um desafio e uma aventura. Já pensou se todos os passageiros se comportassem de maneira previsível? Não teria graça, e a gente não teria tantas histórias para contar aos nossos filhos, para postar nos nossos blogs ou para publicar em nossos livros.