"Pensei que era moleza mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão"
(Melô do Marinheiro - Os Paralamas do Sucesso)
Esse blog é dedicado a todos que voam, que já voaram e que sonham em voar!





quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Filhos, trabalho e culpa

Para muitos pode parecer que a maternidade é incompatível com a profissão de comissária. Em tempos mais remotos essa percepção era tão certa que as "aeromoças" quando se casavam tinham que pedir demissão. Não era a toa que elas eram sempre aeroMOÇAS! rsrs

Mas eram outros tempos. Tempo em que muitas mulheres não trabalhavam fora, e as que trabalhavam ou estudavam deixavam de faze-lo quando se casavam para priorizar a família e os filhos que viriam.

Hoje os tempos mudaram. As mulheres trabalham fora não mais por opção, mas por necessidade mesmo. Quando são casadas, muitas vezes o salário do marido não é suficiente para sustentar a casa e os filhos. E por falar em filhos, a maternidade deixou de ser vinculada ao casamento. As mulheres tem filhos e continuam solteiras, ou se separam com os rebentos ainda pequenos.

Toda mãe que trabalha fora se sente culpada quando deixa o filho aos cuidados de terceiros. Fato. A função de mãe está ligada à culpa desde tempos imemoriais. A mãe é sempre a culpada de tudo!
Se o filho é um delinquente: culpa da mãe que não estava presente na formação dele!
Se o filho é mimado e imaturo: culpa da mãe que fazia todas as vontades dele!
Se vai mal na escola: culpa da mãe que não acompanha os estudos dele!
Se é estudioso, centrado e inteligente: a mãe não fez mais do que a obrigação!

A comissária pode perfeitamente conciliar o trabalho com a maternidade sem causar traumas nem deixar sequelas em ambos (mãe e filho).

Ao ser detectada a gravidez, a comissária deve notificar a empresa e sair da escala de voo. Comissárias não podem voar grávidas, não por causa do voo em si, mas pela natureza do trabalho a bordo que requer esforço físico.
Enquanto estiver afastada a funcionária recebe da empresa um salário maternidade, que consiste no salário em carteira, sem as horas de voo.

Como o INSS não considera gravidez como doença, e de fato não é, o salário maternidade é pago até o oitavo mês de gestação, quando após a perícia feita no CEMAL ou outro órgão responsável pela emissão do CCF, a comissária inicia a licença maternidade de 120 dias assegurada por lei a todas as mulheres que trabalham no regime de CLT.

Na prática a mãe comissária fica quase um ano afastada do trabalho, pois é costume emendar as férias na licença maternidade, barganhar mais uns 15 dias se o pediatra atestar que a criança precisa...

Até aí, tudo bem. Mas vai chegar a tão temida hora de retornar à escala de voo! Afinal, trabalhar é preciso!

A maioria das comissárias ou já são mães, ou um dia irão se tornar.

Apesar de saber que cada caso é um caso, que cada uma sabe aonde o calo mais aperta, que os conselhos para umas podem não servir para outras, e que se conselho fosse bom ninguém dava, só vendia, esse blog é dedicado para aqueles que voam, já voaram ou pensam em voar.
Então eu não poderia me furtar a deixar aqui registrado algumas dicas, sugestões e conselhos grátis de alguém que já passou pela experiência e já sentiu na pele toda culpa e toda a angústia, mas que sabe que tudo isso valeu a pena.
Os conselhos a seguir são baseados em experiências próprias e de outras comissárias mães, guerreiras e dedicadas que generosamente compartilhavam as vivências com as companheiras de jornada.


  • Tente (pelo menos tente) manter o corpo em forma durante a gravidez. Nada de achar que você tem que comer por dois! Lembre-se de que você vai ter que caber dentro do uniforme quando retornar.

  • Mesmo que você tenha ajuda de terceiros, procure uma creche para seu bebê por meio período. Existem creches que aceitam bebês a partir de seis meses. Procure uma próxima da sua casa. Se tiver referências melhor. Se não tiver, peça para conhecer as dependências, converse com pedagogas e psicólogas, faça visitas surpresa, converse com outras mães que tem filhos lá. É importante para criança se socializar desde cedo, além de não sobrecarregar a pessoa que está te ajudando, porque afinal de contas a mãe é você e não ela!
  • Obs. Não se iluda pensando que a sua mãe vai ter sempre a maior boa vontade em te ajudar. Volta e meia elas reclamam mesmo, porque uma coisa é ser avó e só paparicar o netinho, outra coisa é ficar no seu lugar de mãe enquanto você está voando.

  • Ao contratar uma empregada, faça isso enquanto estiver de licença maternidade para poder observar de perto a postura dela e como seu filho reage a ela. Explique como será sua rotina quando você retornar ao trabalho. Deixe claro que você trabalha aos domingos e feriados e pergunte se ela está disposta a encarar essa rotina. Você pode compensa-la com folgas durante a semana.  
No quesito empregada doméstica vale ressaltar que nem sempre elas cumprem o prometido!  Enquanto você está de licença está tudo bem, mas no primeiro domingo ou feriado que elas tiverem que trabalhar, pode acontecer de roerem a corda e mudarem de idéia. Por isso esteja muito segura da pessoa que contratar!

  •  Não pense que só porque seu filho ainda é um bebê ele não vai sentir sua ausência. Crianças muito pequenas manifestam suas emoções somatizando febre alta, erupções cutâneas, vômitos, etc. Prepare-se para a possibilidade de chegar de voo e ter que decolar novamente rumo ao pediatra com seu filho no colo. Tenha em mente que isso é uma fase e vai passar. Não se sinta culpada (pelo menos tente!).

  • Em uma determinada fase pode acontecer de seu filho começar a chorar toda vez que você vestir o uniforme. Isso acontece por volta dos três anos, mas pode variar. Resista para não chorar também. Faça das tripas coração, fale com ele com muita calma e carinho, mas com firmeza, que a mamãe tem que sair para trabalhar, mas que sempre vai voltar para ficar com ele. Não ceda aos apelos, a não ser que ele esteja realmente doente. Se você ceder, ele vai entender que essa é a maneira de manter a mamãe perto dele e continuará fazendo. Lembre-se novamente de que isso é uma fase e também vai passar!

  • Sei que é inútil dizer para uma mãe que se sente culpada por estar longe do filho para evitar trazer presentes toda vez que chega de voo! Claro que você vai ver um monte de coisas bonitas e diferentes que seu filho vai gostar! E que você vai comprar essas coisas! E vai ter o impulso de abrir a mala assim que chegar em casa para mostrar os presentes, como forma de compensar sua ausência. E com isso a criança vai associar sua chegada aos presentes que ela vai ganhar! E ao invés de você, o interesse dela vai estar concentrado na sua mala!
Então faça o seguinte: Compre os presentes que você quiser, mas não dê ao seu filho de imediato. Guarde para dar em um dia especial, como aniversário, dia das crianças ou algo assim. Vá juntando o que você trouxer e dê nesses dias. Presentear o filho uma vez ou outra quando se chega de voo não tem problema. Mas fazer disso um hábito não é benéfico nem para a criança, que se torna interesseira e nem para a mãe, que se vê na obrigação de sempre comprar presentes.

  • Quando seu filho tiver idade suficiente, leve-o em um voo que você esteja tripulando. Assim ele vai poder ver como é seu ambiente de trabalho, o que você faz a bordo e ainda vai poder curtir um pernoite com você no hotel (eles adoram hotéis!) e dependendo do voo fazer alguns passeios. Eu levei meu filho comigo pela primeira vez quando ele tinha quatro anos. Era um voo para Manaus com escala em Brasília, e o pernoite era em um hotel maravilhoso. Ele adorou e se comportou bem a bordo. Os colegas ajudam e às vezes até os passageiros. Depois disso fiz voos mais longos com ele, para Europa e Estados Unidos.

No final de tudo, eles sentem muito orgulho de nós! E ainda tiram onda com os amigos contando das viagens que eles fizeram. O mundo se abre para eles também, pois a oportunidade de ter contato com outras culturas e visitar outros países não tem preço e faz uma grande diferença na formação do caráter deles e na visão que eles terão do mundo e das pessoas.

E isso faz todo sacrifício valer a pena!

12 comentários:

Amy S Martins disse...

Obrigada Lucy!
Seu texto foi esclarecedor!
E me tranquilizou bastante também.
Bom saber que tudo isso vai valer a pena, não só pra mim como profissional, mas também como mãe.

FILIPE ELOY disse...

Maravilhoso! Lembro exatamente das vezes que você falava sobre isso nas aulas. No final vale a pena..essa frase ficou na minha cabeça...

Fiquei muito feliz de seu filho ter comentado lá no blog! Show! No que eu puder ajudar ele lá na empresa - vai ser maior prazer!

Bjoss

Anônimo disse...

olá Lucy.
foi muito bom ler sobre maternidade conciliada a profissão em seu blog. fiz meu curso de comissaria mas agora estou grávida e não sei como seria trabalhar nessa profissão longe da familia. Se pudesse me responder se tem muitas mulheres já mães que ingressam na profissão ou se têm alguma dificuldade para entrar. Desde já agradeço.
Fernanda

Lucy in the sky disse...

Oi Fernanda! Atualmente o número de mulheres que já são mães entrando na profissão aumentou.
O simples fato da mulher já ser mãe não é nenhum problema. As empresas sabem que mesmo aquelas que não são, um dia com certeza ficarão grávidas.
Mas prepare-se para ser questionada com perguntas tipo: "Com quem seu filho ficaria?" ou "Você ficará preocupada sabendo que seu filho está doente e você está longe?"
O que eles esperam é que você seja segura nas suas respostas.
Curta bastante sua gravidez e boa sorte na futura carreira!

Unknown disse...

Lucia, lendo seu post eu tenho quase certeza que você foi minha professora na cia do ar! Estou grávida agora e súper insegura de não conseguir trabalhar depois! Muito Obrigada

Julia

**Manusinha.....Hello Kitty** disse...

OI Lucy....Bom eu to muito triste pois fiz o curso em 2010 foi onde conheci meu ex, quase passei na ANAC qndo fui fazer a segunda época descobri q estava gravida, agora meu bebe tem 10 meses e assim eu to super frustrada pois ser comissaria era meu sonho, todos dizem q não vou consegui por causa do bebe, to vindao aqui mais pra desabafar pois eu amo a aviação eu me encontrei nela, ta certo q nem cheguei a trabalhar, mais me apaixonei mesmo, to muito desolada qnto a isso !!!!!

Anônimo disse...

Boa noite, seu texto foi otimo e reconfortante. Sonho em fazer o curso de comissaria faz quase 2 anos.
E com a ajuda de Deus vou começar esse ano (em setembro), porem tenho um filho de quase cinco anos, e tenho grandes duvidas!
Gostaria de saber quando poderei levar meu filho comigo nas viagens?
Existe um limite por mes?
Alguem pode me impedir de leva-lo (Chefe de cabine) por exemplo?
Sou eu que pago as diarias dele, e se eu pagar posso leva-lo frequentemente?
Essas duvidas me sufocam pois sou mae solteira, e só tenho ele de filho.
Apesar de morar com minha mae e irmao, gostaria muito de poder leva-lo sempre que possivel!
Fico no aguardo
Muito obrigada
E bjos para vc e seu filhoo.
obs: se quiser mandar e-mail(thais.oliveira07@hotmail.com)

Anônimo disse...

Tenho mts medos e duvidas . Pois tenho 17 anos e minha filha tem 2 anos. Mais tb penso q vai ser uma maneira de dar uma vida um pouco confortavel pra ela e no futuro ela ter orgulho de mim vou fazer isso por ela. Obg lucy. Vc mim ajudou mt.

Unknown disse...

Oi.
Tenho uma dúvida cruel.
Eu não sei ingles!
Estou pensando em fazer o ingles primeiro para depois fazer o curso de comissária.Oque vc acha?

Otalia "Lia" disse...

Olá Lucy,tudo bem??
Nossa parabéns pelo texto..
Gostaria de saber se pode me ajudar em algumas dúvidas?
"Tenho 29 anos,trabalho na aviação porém no chek in de uma cia..
Tenho mta vontade de fazer o curso de comissaria de bordo,e só agora condicões para paga lo.
Mais minha já"avançada" idade me impediria de ingressar na área?..E no caso como foi com vc sendo mãe,mulher ,ingressar na carreira??..

nay disse...

ótimo post muito bom mesmo me ajudou muito bjosssss

Anny disse...

Lucy

Gostei muito do seu blog, esclareci minhas duvidas, fiz o curso de comissária e a poucos dias descobri que vou ser mãe,fiquei com medo de não poder ingressar na profissão.